terça-feira, 17 de agosto de 2010

CULTO DE LOUVOR E ADORAÇÃO A DEUS: CULTO RACIONAL!

ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. (Rm 12.1)

Adorar a Deus é algo tão antigo como a existência do homem sobre a Terra. Desde sua criação, o homem busca manter contato com o Seu Criador, busca relacionar-se com o sobrenatural. E assim diversas expressões de culto surgiram ao longo dos séculos, desde as mais estranhas e bizarras até as mais intelectualizadas e impessoais. Por quê? Há muitas explicações antropológicas e sociológicas que poderiam ser utilizadas para explicar as diferentes formas de culto. Transcrevê-las aqui tornaria esta argumentação numa verdadeira tese acadêmica, obra de pesquisadores.

Será que a Bíblia não explicaria essa variedade de formas de culto? Sim, ela explica. Toda a iniciativa de relacionamento entre o homem e Deus sempre deu-se por iniciativa do próprio Deus. Todos os dias, no Éden, onde o homem criado habitava, Deus passeava com o homem e assim a comunhão era real. Segundo alguns, isso se dava na hora da viração do dia (às 18h); particularmente creio que a comunhão era tão intensa que não havia limitação de horário. De qualquer modo, fico imaginando o quão maravilhoso deveria ser esse relacionamento! Ouvir de Deus diretamente, aprender com Ele todos os dias, estar em Sua presença continuamente. Todos os dias conhecê-Lo mais um pouco. Esse lugar, chamado Éden, era o Paraíso; não por sua constituição física, mas pela espiritual!

Porém, com o pecado cometido por livre vontade humana, sob a tentação da serpente, a comunhão foi rompida e o homem expulso do Paraíso. Não havia mais condições do homem permanecer no Paraíso, porque em última análise o Paraíso não permanecia mais nele - houve separação, brusca ruptura no relacionamento com o Criador. Ergueu-se o muro do pecado! Se o homem ali permanecesse, estaria miseravelmente condenado a infelicidade eterna, exatamente como o seu tentador: nunca mais teria comunhão com Deus, sendo eternamente separado Dele! A expulsão do Paraíso foi uma medida dura, porém justa e repleta de amor e graça. Em tudo, é possível ver o amor de Deus pelo homem: "[...]para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente[...], o SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden[...]" (Gn 3.22a,23a).

Porém, o pecado do homem - a queda - não apenas separou o homem de Deus, mas sujeitou-o à insistente ação tentadora da serpente. Tendo cedido uma primeira vez, o homem passou a ter em sua história a horrível e odiosa presença daquele maligno e perverso ser, cheio de seduções, buscando tragá-lo em todo momento. Este, como no princípio, busca de todas as maneiras separar o homem de Deus: todos os seus estratagemas, todas as suas artimanhas, todas as suas diabolices visam, destarte, este propósito, e todas culminam sempre no triplo "matar, roubar e destruir".

No seu afã diabólico, Satanás criou diversos "deuses" com "diversas formas de culto e adoração". Quem eram esses deuses? Ou eram personalidades (reis e governantes) ou forças da natureza, que sob a propaganda do inferno tornavam-se divindades. Assim, por exemplo, surge a adoração a Semíramis e Tamuz; o culto a Baal e Astarte (que envolvia prostituição cultual); o culto a Moloque (que envolvia o sacrifício de crianças no fogo), etc. O problema se alastrou até nossos dias, como se vê facilmente nas religiões existentes: cada uma propõe o seu deus e a sua forma de cultuá-lo, podendo chegar ao ponto de novamente sacrificar crianças inocentes, como a mídia tem mostrado.

Alguns teólogos afirmam que o próprio Satanás foi há muitos e muitos anos atrás, em um tempo fora da nossa cronologia, ministro de louvor no céu, em sua época de querubim ungido. Teria sido conhecido como Hillel Ben Shahar. Hillel vem de Hallel, que significa louvar, adorar, servir. Ben Shahar significava filho do amanhecer. A implicação é que Lúcifer era o líder do louvor no amanhecer da criação. Era dotado dos dons de liderança e criatividade musical. Daí toda deturpação e confusão na área de louvor e adoração a Deus que existe modernamente.

Obviamente, Deus não permitiria que o homem seguisse a mentira sem dar-lhe a opção da verdade. Assim, Jesus - Deus que se faz carne, Deus conosco -  veio restaurar a comunhão perdida com Deus, salvando-nos de nossos pecados, em Sua morte vicária e expiatória na Cruz do Calvário. Ele nos ensinou como adorar a Deus - "em espírito e em verdade" - afirmando conclusivamente que "o Pai procura os que assim o adorem". Paulo, apóstolo de Nosso Senhor, tendo recebido do próprio Cristo Ressurreto tal dom, afirma que o culto cristão é um culto racional: παρακαλω ουν υμας αδελφοι δια των οικτιρμων του θεου παραστησαι τα σωματα υμων θυσιαν ζωσαν αγιαν ευαρεστον τω θεω την λογικην λατρειαν υμων. (Rm 12.1 - NT Grego: Textus Receptus, 1894)

Culto racional é λογικην λατρειαν, é logikos latreia. A palavra latreia pode ser traduzida por "culto" (Jo 16.2; Rm 9.4 e 12.1 - ARA) ou por "serviço sagrado" (Hb 9.1-6). Significa serviço: de obediência a Deus em geral, ou pode se referir, como nas duas citações em Hebreus 9, aos atos específicos de louvor à Deus. 

Já o termo logikos é traduzido por "razoável" (King James Version, Douay-Rheims Bible), "inteligente" (Darby Bible Translation,Young's Literal Translation, French Darby) e "racional" (ARA, ARC, Reina Valera, Louis Segond, etc), esta última tradução na maioria das versões da Bíblia. Apenas algumas versões traduzem logikos por "espiritual" (como por exemplo a World English Bible e a American Standard Version).

Deste modo, pode-se concluir acerca do culto de louvor e adoração a Deus que este é um culto racional, o que significa:

1) Que o culto é prestado a Deus; é serviço santo - tanto nos dias específicos de culto, onde a Igreja se reúne, como cotidianamente, quando prestamos serviço à Deus fora do templo. Deus é o foco; toda adoração e culto são obrigatoriamente dirigidos a Ele, sem o lugar para estrelismos. Trata-se de louvor profético, de Deus para Deus.

2) Que o culto prestado a Deus é espiritual, ou seja, em espírito, como disse Jesus em João 4:23.24. Isso não significa que o culto é repleto de falso misticismo ou de manipulações emocionais. Não significa por outro lado que ele é frio e calculista, humanizado. Significa tão somente que é feito por crentes "pneumatikos", espirituais, e não "sarkikos", carnais; envolvendo reverência, temor, respeito, alegria, liberdade, espontaneidade, gratidão e presença do Espírito. Palmas e demais expressões de louvor (como as danças coreografadas e os famosos "aleluias" e "glórias a Deus") têm o seu lugar no culto cristão. As ações de culto (oração, cânticos, louvor, ofertas, etc) só podem ser aceitas por Deus nesta base (Pv 15.8; Is 1; Am 5.21-23; Mt 9.13; 5.23-25; etc).

3) Que o culto prestado a Deus é razoável, ou seja, ele é justo, legítimo; ele é moderado, comedido; ele é ponderado, sensato. Não é desordenado, sem pé nem cabeça, sem começo nem fim. Não é um "oba-oba e salve-se quem puder".  Nele podem ser cantados "salmos, hinos e cânticos espirituais" (Cl 3.16): podem ser cantados hinos como "O Dia do Triunfo de Jesus" (Harpa Cristã 048) e "Trabalhai e Orai" (HC 115), podem ser cantados salmos como "Hinei Ma Tov" (Sl 133) e "Cantai ao Senhor" (Sl 96 - Vencedores por Cristo) e podem também serem cantados cânticos como "Cantai!" (Hosana Music),"Hinêh Ni Adonai" (Pra. Alda Célia) e "Roni Roni Bat Zion" (Paul Wilburn)! 

4) Que o culto prestado a Deus é inteligente. Isso significa que compreendemos e nos adaptamos facilmente ao culto que se está sendo celebrado. Como o Espírito de Deus está dirigindo o culto: está focando a Cristo como Senhor? Ou como Salvador? Está focando Deus como Pai? Ou o evangelismo? Ou a cura divina? Ou a comunhão? Pode modificar a ordem de culto (sequência)? Alguns irmãos acham que não, que a ordem de culto divinamente inspirada é aquela que praticam em sua denominação e não aceitam nenhuma outra. Porém, as mais variadas sequências de culto indicam que este assunto é puramente denominacional, não divino. Assim, num culto inteligente, permitimos ao Espírito que a ordem seja modificada num determinado culto, sem prejuízo da "decência e ordem". Não há desordem quando o Espírito promove isso, apenas reordenação, uma nova ordem.

Aliás, decência e ordem nada tem a ver com formalismo, liturgia morta. O que é mais decente e ordenado do que um cemitério bem cuidado? Isso levou Spurgeon a clamar: "Oh, Deus, manda-nos uma temporada de gloriosa desordem!" Estrutura sem espontaneidade é como um corpo sem fôlego.

A verdade é que nós estranharemos a forma completamente diferente de louvor e adoração a Deus praticadas no céu quando lá chegarmos. Um louvor e uma adoração nova a cada manhã, um culto dinâmico e cheio de vida para todos os lados, repleto de ações de graças e de júbilo. Não há repetição cansativa ou "mesmice" diante do Senhor; basta ver a enorme diversidade da Sua criação, quer visível, quer invisível! Nosso Deus é extremamente criativo e alegre, pleno em tudo o que faz! No mínimo, o louvor e a adoração a Ele precisam manifestar esta plenitude!

5) Que o culto prestado a Deus é racional. É lógico, é coerente. Ele é "em verdade". A Palavra de Deus é exposta de forma que todos possam entender. Tem ensino, tem exortação, edificação, consolo pela Palavra. A palavra profética é ministrada, vindo ao encontro da necessidade dos ouvintes. Ninguém fica olhando ansaiosamente para o relógio após 20 minutos de pregação, pois sabe que ouvir atentamente o sermão é também cultuar a Deus.

Assim, o culto cristão é um culto verdadeiro: verdadeiramente há interesse em todas as etapas do culto pelos "adoradores" (ninguém ausenta-se na hora do sermão), verdadeiramente os músicos e cantores cantam e tocam adorando a Deus (e não apenas fazendo "cara de santo" como "artistas da fé"), verdadeiramente o Espírito Santo está presente, com "decência e ordem" e com "liberdade e espontaneidade". O culto cristão de louvor e adoração é, verdadeiramente, um culto racional!

Pense nisso. Deus está te dando visão de águia!

2 comentários:

  1. Pr. Ricardo,
    O sr expos com precisão pontos que muitos não entendem no contexto da adoração e louvor da e na Igreja.
    Muitos confundem "ordem e decência" com frieza e mesmice. Outros confundem "alegria e gozo" com confusão e bagunça.
    A verdade é que o culto cristão é alegre, festivo, dinâmico e ao mesmo tempo organizado, ordeiro e reverente. E tudo isso encharcado pela unção do Espírito.
    Estes itens não são excludentes, mas complementares.
    Que bom seria se todos entendessem isso.
    Ótima explanação.
    Forte abraço,
    Em Cristo,
    Pr. Magdiel G Anselmo.

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  2. O culto a Deus só acontece de fato e de verdade ,quando ele se torna algo habitual em nosso ser.Deus ,sendo o centro de tudo,Aquele que tem proeminência todo dia,toda hora,todo instante.Quando O vemos em cada situação,quando Ele é em nossas vidas e não quando apenas faz parte delas.Os estrelismos não tem mais seu lugar,porque Ele é a ùnica Estrela no culto e só Ele merece ser glorificado,não seres humanos fracos e falhos.

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