quinta-feira, 25 de agosto de 2011

RUDIMENTOS DA DOUTRINA DE CRISTO - II: FÉ EM DEUS

POR isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Deus o permitir. (Hb 6.1-3)

Continuando o tema da argumentação anterior, "RUDIMENTOS DA DOUTRINA DE CRISTO - I: ARREPENDIMENTO DE OBRAS MORTAS", nesta argumentação será abordado o fundamento da "fé em Deus", do grego "pistis epi Theos". Note que este fundamento está ligado ao anterior, o "arrependimento de obras mortas". Assim, no processo de tornar-se cristão, o homem deve primeiro arrepender-se de suas obras mortas (implicando aqui tudo o que foi abordado anteriormente) e então crer em Deus.

Porque é preciso crer em Deus? Ou crer em Deus com relação a quê?

Ao se deparar com a realidade de suas obras - mortas, e portanto inúteis, perante Deus - o homem vê-se diante de uma situação irremediável do seu ponto de vista. Ora, se todas as obras que o homem produz, por melhores que sejam, estão mortas, então como o homem poderá ser salvo, se tudo o que ele faz é inútil do ponto de vista de Deus? Se o homem nada pode apresentar por si mesmo - nem obras, nem justiça - o que o homem pode fazer para ser salvo de seus pecados?

É exatamente neste ponto que as religiões propõem a saída. Elas propõem como resposta a este dilema espiritual o sacrifício pessoal. Este sacrifício é assim apresentado ao homem como sendo a alternativa válida para suas mazelas. Os mais diversos termos para "sacrifício" são empregados pelas religiões: penitência, passo de fé, trabalho, oferta, etc. O sacrifício, segundo os mestres das religiões, agradam a divindade, atraindo favores e propiciando aceitação pessoal (aplacamento da ira divina, salvação espiritual, progresso espiritual, prosperidade, etc) e isso é um conceito muito antigo. As mais incipientes formas de religião apresentavam em sua teologia o papel do sacrifício por parte do fiel. Por quê? Porque há dois princípios espirituais envolvidos: "transgressão precede a punição" e "punição da transgressão é a morte".

Estes princípios não foram estabelecidos pelo homem, mas por Deus. No Éden, disse Deus: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Gn 2.17) Aqui estão ambos os princípios acima: na hipótese de transgressão, de pecado, haverá uma punição e esta punição será a morte. Com isso, a morte entrou no mundo, tornou-se realidade prática na vida de todo o vivente e até mesmo do planeta e do universo. Segundo o autor do livro de Gênesis relata, o que fez o homem para resolver o imenso problema que ele mesmo causou por sua desobediência? Nada; não porque não quisesse resolver, mas porque ele havia se tornado parte (principal) do problema e assim estava incapacitado de fazê-lo. O máximo que o homem conseguiu fazer é se esconder entre as árvores do jardim, vestidos com aventais feitos a partir de folhas de figueira e, depois de achado, tentar transferir a sua culpa.

Abre 1º parênteses: É exatamente isso que o homem faz até hoje, quando sabe que cometeu pecado. Ele primeiro se esconde, evitando a todo custo aparecer em público; ele torna-se um foragido da justiça divina. Depois, ele procura (em)cobrir seu pecado e isso ele faz de várias maneiras. Por fim, quando pego e sem saída, busca transferir a sua culpa, acusando o sistema, a igreja, o diabo, o pastor, o presidente da república, o chefe, a carestia, a falta de emprego, etc. Fecha 1º parênteses.

Note que "a partir daquele momento, o homem passou a ser dominado por Satanás (que significa inimigo). Dominando o homem, Satanás passou a ter poder também sobre o planeta e a ser o deus deste mundo – não por direito como Deus era, mas por ter roubado o domínio pela tentação e pelo pecado". “É muito simples”, Satanás pensou. “Sempre que algum ser humano nascer, será uma moleza: eu o tentarei e o farei submeter-se a mim. Dessa forma, serei o deus deste mundo.” (Asher Intrater, Revista Impacto Nº 66, http://www.revistaimpacto.com.br/ceus-e-terra-no-plano-de-deus)

Usando uma linguagem antropopática, Asher prossegue: "Deus ficou numa “enrascada”. O diabo disse: “Eu o peguei! Você deu a Terra para os homens, não pode voltar atrás com sua palavra e não vai consegui-los de volta, porque posso enganá-los e levá-los a pecar. Agora tenho autoridade sobre este mundo; você pode ser o Deus do Céu, mas eu sou o deus deste mundo e não há nada que o Senhor possa fazer.” Ao ver essa situação, a primeira solução a ser pensada é "livrar-se do problema", o que implicaria em Deus livrar-se do diabo. Porém, ao fazê-lo, Deus teria também que livrar-se do homem.

Já que o homem estava sob domínio de Satanás e nada podia fazer para mudar isso, competia a Deus agir. O que fez Deus, então, ao ver toda sua criação sujeita ao pecado? Ele relatou ao homem caído e ao próprio diabo a Sua Solução: "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." (Gn 3.15) Noutras palavras, Deus disse que haveria alguém, descendente da mulher, que esmagaria a cabeça do diabo. Esta promessa ecoou através dos séculos tanto no coração dos homens, quanto no interior do próprio diabo, que tudo procurou fazer para "sujeitar o filho da mulher ao pecado". Quando não conseguiu, o matou, como fez com Abel.

Foi isso mesmo que Satanás tencionou fazer com Jesus. Ele é o descendente da mulher, nascido de mulher, nascido em carne. Ele viveu nesta Terra sem pecado nenhum; Ele venceu todas as tentações do diabo. Mesmo armando diversas ciladas para o Senhor, Satanás jamais conseguiu fazê-lo pecar ou ser morto. O Senhor morreu na cruz não porque o diabo o matou, mas porque era parte do plano de Deus que Ele morresse. Ele mesmo disse: "Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai" (Jo 10.17,18). Como também era parte do plano que Ele descesse ao inferno e tomasse das mãos do diabo as chaves da morte e do inferno e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos.

O que significa, então, esta expressão "fé em Deus"? Significa crer que a solução para as obras mortas não está no homem, mas em Deus. Jesus é a Solução de Deus para as Obras Mortas! Aleluia! Esta é a boa nova de Deus, o Evangelho do Senhor! Ele, o Senhor Jesus, "tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si"; Ele foi "ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades", conforme Isaías nos ensina profeticamente. Ele levou sobre Si, na Cruz, todos os nossos pecados, todas as nossas transgressões. Assim, Ele tomou o meu lugar e o seu, querido leitor, morrendo por nós; afinal, esse é o princípio estabelecido - a punição da transgressão é a morte. A morte que Ele morreu era nossa; aquela cruz era a consequência natural para mim e para você, pois fomos nós quem pecamos. O Senhor Jesus jamais pecou; nós, pelo contrário, já fomos gerados em pecado (Sl 51.5) e desde então não fazemos outra coisa a não ser pecar. Mas Ele tomou o nosso lugar, assumiu a nossa pena.

Deste modo, fé em Deus - passo seguinte ao arrependimento das obras mortas - consiste em crer na solução que vem de Deus para nosso estado espiritual decaído, para nossa apostasia, para nossa vida de pecado sobre pecado: na encarnação, na morte e na ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Não se trata apenas de reconhecer isto como mero fato histórico, isso não tem nenhum valor espiritual dentro do que estamos abordando; mas reconhecer o propósito de tudo o que foi feito, ou seja, nos salvar dos nossos pecados. "O SENHOR fez cair sobre ele [Jesus] a iniqüidade de nós todos. [...] O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados." (Is 53.5,6) O pecado é pessoal, assim o arrependimento e a fé em Deus também é algo pessoal. É impossível se arrepender ou crer por outra pessoa, como se pudessemos ser representantes de outrem. É algo que cada um precisa fazer, individualmente.

Portanto, Jesus foi dado por Deus por mim. Deus deu o Seu Único Filho porque Ele me amou, apesar da minha multidão de pecados. Esse gesto de Deus - dar o Seu Único Filho - compreende o nascimento de Jesus em carne e compreende a Sua morte na cruz. Nasceu, viveu, morreu e ressuscitou por mim. Quando creio com todo o meu coração nessa Verdade, eu então recebo Jesus como Meu Único e Suficiente Senhor e Salvador pessoal. "Aceitar Jesus", termo popular nas Igrejas Evangélicas, nada mais é do que aceitá-Lo como a Solução de Deus para minha vida; como pode ser facilmente visto, implica em mais do que repetir uma oração, atender um apelo, ou coisas do tipo. Quando recebo Jesus em minha vida, Ele me perdoa por meus pecados, me dá a Sua justiça e passa a fazer parte da minha vida, na Bendita Pessoa do Seu Espírito. Vivo com Ele nesta Terra e, quando morrer, me encontrarei com Ele no céu, onde viverei para sempre ao Seu lado.

E você, já foi salvo pelo Senhor, à luz de tudo o que foi ensinado até agora? És salvo, sabendo agora tudo o que isso implica? Se não é, não perca mais tempo! Hoje é o dia! 

Na próxima argumentação, permitindo Deus, abordaremos a doutrina dos batismos. Até lá! Lembre-se: Deus está te dando visão de águia!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RUDIMENTOS DA DOUTRINA DE CRISTO - I: ARREPENDIMENTO DE OBRAS MORTAS

POR isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Deus o permitir. (Hb 6.1-3)

Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra "rudimentos" possui os seguintes sinônimos:"elemento inicial; princípio, começo; esboço; primeiras noções; conhecimento geral, e superficial ou elementar". Neste texto, o autor da epístola aos Hebreus conclama aos crentes a prosseguirem no crescimento do conhecimento e espiritualidade cristãs. Nas palavras do autor, o avanço em direção à perfeição de Cristo se faz necessário e, para tal, os primeiros conceitos, rudimentares - que já deveriam estar bem firmados e compreendidos - não deveriam ser o único tema a ser objeto de estudo por aqueles irmãos. Para o crescimento emocional e espiritual do crente, os rudimentos, chamados na Bíblia de "leite", deveriam ser substituídos por alimento mais sólido na vida daqueles que já eram crentes há algum tempo e que, portanto, já haviam tido a formação básica necessária para sua fé. 

Obviamente, esse conselho pressupõe que os neo-convertidos eram ensinados (doutrinados) com relação à sua fé. Um neo-convertido deveria, deste modo, aprender os fundamentos da fé cristã, para só então prosseguir com ensinos mais elaborados. Que fique bem claro que os objetivos deste ensino não eram a formação acadêmica ou intelectual dos crentes, mas sim a formação teórico-prática, voltada para a sua vida cotidiana. Os crentes devem ser praticantes da Palavra de Deus e não apenas ouvintes (Tg 1.22) e essa prática envolve, dentre outras coisas, "responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (I Pe 3.15).

Hoje, infelizmente, há pouco ensino na Igreja. Com relação ao "pouco ensino", entenda-se "pouco/nenhum ensino efetivo, voltado para a formação do caráter e vida cristã de acordo com as Escrituras Sagradas". A Escola Bíblica Dominical (EBD), a qual foi usada durante décadas a fio pelas Igrejas com este propósito, já há muito se encontra esvaziada, tanto em termos de conteúdo, quanto de alunos e mestres interessados em aprender e ensinar. De fato, pouco material útil é encontrado à disposição das Igrejas para o ensino da EBD, uma das consequências da teologia do "aqui e agora", da "prosperidade egoísta e irresponsável", talvez a maior heresia e vento de doutrina já experimentados pela Igreja. Pela duração, intensidade e estrago feito até o momento, esse vento é, na prática, o "El Niño" da Igreja, provocando um rastro de morte e destruição por onde passa.

Por outro lado, há um verdadeiro "boom" de ordenação de pessoas ao ministério pastoral. Penso que nunca se ordenou tanta gente ao pastorado como em nossos dias. Ao contrário do que possa aparentar, esse "boom" trouxe mais prejuízo do que ganho para a causa do Evangelho, porque muitos ministros ordenados não possuíam as mínimas condições de sê-lo, nem ainda possuem, após ordenados. Esse fenômeno está, de certo modo, ligado ao surgimento explosivo de novas denominações (necessidade de mão-de-obra), criadas sem pouco ou nenhum critério (geralmente, fruto de divisão de outra denominação/igreja). Se a Igreja/denominação foi criada com pouco ou nenhum critério, ou se permitiu concessões às Verdades Eternas, relativizando e suavizando o texto bíblico em prol de um maior sucesso e aceitação, então seus ministros ordenados seguirão, inevitavelmente, o mesmo padrão.

Abre 1º parênteses: Os Concílios Ordenatórios, criados pelas Convenções das Igrejas Históricas (como CBN, CIBI, CBC, CBB, etc, só para citar as de confissão batista) foram, durante muito tempo, o fiel da balança, impedindo que pessoas despreparadas assumissem tão importante função que é o pastorado. Mesmo podendo ter se equivocado em alguns casos, os Concílios Ordenatórios merecem destaque pelo seu papel no zelo pela Igreja e pela denominação, mantendo a decência e a ordem na Casa de Deus. Fecha 1º parênteses.

Como há despreparo generalizado e desprezo pela formação cristã, hoje em dia é fácil encontrar pessoas que se dizem crentes sem nunca terem tido contado com os fundamentos da fé que dizem professar. Dizem ter "aceitado Jesus" sendo "batizadas nas águas", mas quando questionadas sobre o que essas coisas significam, as respostas são as mais estapafúrdias possíveis. Há, porém, um núcleo comum em todas as respostas: a solução imediata de problemas (físicos e temporais). Tratam-se de pessoas que um dia procuraram uma Igreja (ou por iniciativa própria ou por convite) e lá lhes foi dito que "se aceitassem Jesus, teriam a solução dos seus problemas". Ora, quem não quer ter os seus problemas resolvidos? E ainda mais: resolvidos de forma fácil, por outra pessoa, com pouco ou nenhum esforço ou compromisso pessoal! Logicamente, esse "apelo" para "aceitar Jesus" tem uma adesão quase total! 

No entanto, os fundamentos da fé cristã revelam outra realidade em termos da conversão do homem a Deus, distinta da realidade em voga. Os fundamentos apontam para um B-A-BA, um "processo concertado", relativo a fé. Ser cristão é algo que acontece por meio de uma sucessão de etapas sequenciais, onde há uma formação contínua da consciência e realidade crista no interior do homem, partindo-se do básico para o intermediário e daí para o avançado. Estes fundamentos começam, justamente, pelo arrependimento das obras mortas e fé em Deus, pré-requisitos para que alguém se torne um cristão de verdade.

O que são obras mortas? E no que consiste o arrependimento de obras mortas? A definição mais básica possível é a substituição sinonímia: obras mortas são, deste modo, obras sem vida. Quando uma obra pode ser considerada "sem vida"? Quando ela é realizada por alguém "sem vida", ou seja, alguém que está morto. Obviamente, estamos nos referindo a uma pessoa no estado de morte espiritual, ou seja, uma pessoa que se encontra separada de Deus. Assim, uma pessoa num estado de morte espiritual produzirá, inevitavelmente, obras mortas do ponto de vista espiritual, por melhores que sejam suas intenções e por maior que seja o impacto dessas obras para o bem-estar de alguém ou de uma causa.

Segundo a Bíblia, morte espiritual é o estado em que toda a humanidade não-convertida ao Evangelho se encontra diante de Deus. É o justo e merecido pagamento por uma vida de pecado (Rm 6.23a). Quem pecou? Novamente, "todos pecaram", ou seja, toda humanidade (Rm 3.23 - Universalidade do Pecado):

"Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos." (Rm 3.10-18)

É exatamente assim que Deus vê toda a humanidade: como pecadores, mortos espiritualmente, separados de Deus por seus atos e por sua natureza pecaminosa (os atos são fruto da natureza). Por melhor que as pessoas sejam, por maiores que sejam seus esforços, por mais relevantes que sejam suas obras, diante de Deus o estado espiritual é o mesmo: morto. Por melhor chefe de família, por melhor pai/mãe, por nunca ter matado, roubado ou violentado ninguém (nem uma mosca), por mais caridades que sejam feitas, o estado espiritual diante de Deus é o mesmo: morto. Nenhuma obra humana serve para mudar o estado espiritual do homem diante de Deus. O homem, em seu estado de morte espiritual, nada pode fazer por si mesmo para alterar essa realidade. Independente dos atos, a natureza pecaminosa permanece em cada um, não sendo alterada por nenhuma boa obra ou caridade.

Quando compramos um quilo de feijão, o padrão utilizado para verificar a quantidade de feijão é o quilograma (não o litro, ou o ampère). Ninguém pede no mercado "um ampère de feijão", porque não é esse o padrão de medida aplicável a este produto. Assim, por analogia, não são as obras de alguém o padrão que Deus usa para averiguar o estado espiritual dessa pessoa. Daí, não adianta apresentar-Lhe as boas obras como critério válido para verificação da justiça; elas não servem como padrão para isso. Não passam de "obras mortas". Pelas obras, ninguém jamais, em tempo algum, será justificado ou salvo por Deus. Mais uma vez, a Bíblia declara: "não por obras, para que ninguem se glorie" (Ef 2.9); nossa justiça, para Deus, não passa de trapos de imundícia (Is 64.6). Para maior compreensão: trapos de imundícia são os panos utilizados antigamente para conter o fluxo menstrual.

Abre 2º parênteses: Para mudar a realidade espiritual do homem, nada adianta a prática do rito. O rito em si nada é, a menos que seja realmente compreendido e aceito em toda sua realidade. Daí o porquê muitas pessoas, ditas crentes, encontram-se possessas por espíritos demoníacos. Onde está o problema? Está na exigência de uma conversão genuína, o que passa inevitavelmente pelo real entendimento e aceitação de todos os pressupostos e condicionantes para que uma pessoa seja realmente convertida. O genuíno crente, que se converteu de verdade, jamais será possesso por demônios; porém, aquele que meramente segue o rito no afã de auferir benefícios pessoais, poderá sê-lo, mesmo tendo seguido todo rito: levantar a mão, vir à frente da Igreja, oração com o pastor, batismo, frequentar igreja, ler a Bíblia, etc. Enquanto não houver arrependimento verdadeiro das obras mortas, tudo isso é em vão do ponto de vista espiritual. E a realidade espiritual de alguém é conhecida tanto por Deus, quanto pelo diabo. Fecha 2º parênteses.

Abre 3º parênteses: Ainda que muitos pastores insistam em apresentar números para quantificar seu sucesso ministerial ("numa única noite foram mais de X pessoas convertidas!"), há que se questionar, diante de tudo o que foi e está sendo exposto nesta argumentação, a veracidade espiritual destas "conversões"Fecha 3º parênteses.

Assim, do que todo homem precisa ser salvo? Dos seus próprios pecados, tanto enquanto "estilo de vida" quanto natureza! Dos pecados que o condicionam ao estado de morte espiritual e que podem condicioná-lo ao estado de morte eterna. O que é morte eterna? É a eterna separação do homem de Deus, de forma definitiva e irreversível, quando tal homem, morto espiritual, passa do estado de condenação para a realidade da condenação. O que deve então fazer para ser salvo? Primeiramente, parar de justificar-se, reconhecendo a real natureza de suas obras. Enquanto houver justificativa, nada feito; enquanto houver qualquer sombra de dúvida sobre a real condição espiritual, não há conversão. O homem, diante de Deus, está morto em seus pecados e nada pode fazer por si mesmo para deixar de sê-lo, como já foi estabelecido anteriormente. Após reconhecer a real da natureza de suas obras e de si mesmo, o homem precisa se arrepender de suas obras mortas.

A palavra "arrependimento" vem do grego metanóia, e significa "mudança de mente, mudança de pensamento, meia volta volver". O arrependimento no Novo Testamento envolve a decisão mais do que a emoção. Muitos crêem que o arrependimento é algo meramente emocional. As emoções têm o seu lugar no arrependimento, mas o arrependimento é muito mais do que uma reação emocional.  Por sua vez, outros pensam que arrependimento é um ritual, como uma espécie de penitência. Contudo, o arrependimento é uma firme decisão interior – é uma verdadeira mudança da mente. No genuíno arrependimento, a pessoa está em plena concordância com Deus sobre sua real natureza; toda justiça pessoal silencia-se, dando lugar a um sentimento de reprovação e inadequação diante de Deus, do estado miserável em que se encontra e da necessidade urgente de mudar de vida.

Como mudar de vida? Como resolver o problema do pecado? Como pode o homem ser salvo?

Na próxima argumentação, daremos prosseguimento ao tema, abordando a fé em Deus. Até lá! Lembre-se: Deus está te dando visão de águia!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

MUITA CANSEIRA EM DIAS TRABALHOSOS...

SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. (II Tm 3.1)

Dias trabalhosos... assim o apóstolo Paulo qualifica os "últimos dias". Dias de muito trabalho, que geram muita canseira e muito mal-estar, aborrecimento. Não pelo trabalho per se, que é de grande importância, mas pelo tipo do trabalho e a intensidade de energias espirituais e emocionais que ele demanda. Esse trabalho ao qual me refiro é o lidar com as "pessoas dos últimos dias". Sim, o trabalho nos últimos dias, mais intenso do que o trabalho nos primeiros dias, consiste em ter que lidar com os homens e mulheres que vivem neste tempo. Todos os que vivem neste tempo são "pessoas dos últimos dias"? Não, graças a Deus! Mas seu número é crescente; encontram-se em todos os lugares, especialmente na religião.

Ah, a religião... o entorpecente do homem dos últimos dias! O grande gueto, cada vez mais popular, cada vez mais frequentado e cada vez mais violento, onde a violência é intensa, explosiva:

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No beco escuro onde explode a violência
Eu tava acordado
Ruinas de igrejas, seitas sem nome
Paixão, insônia, crença, liberdade vigiada   
 
(Música "O Beco", Paralamas do Sucesso)
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Infelizmente, de forma cada vez mais ampla, a igreja está se tornando como diz a música, "em ruínas"; não passam de seitas sem nome, ou seja, sem identidade definida - meio gospel, meio espírita, meio barro, meio tijolo. A igreja que me refiro é aquela que há muito tempo deixou de ser ekklesia, deixou de ser "coluna e baluarte da verdade" de Deus. Não são todas, novamente afirmo e novamente glorifico a Deus por isso. Porém, infelizmente não são poucas.
 
Esta abordagem não refere-se à instituição, associação ou organização, que é ampla e variada. Se a origem do problema fosse a organização, resolvê-lo seria o mais simples dos trabalhos. Um bom gestor de O&M, um especialista em gestão organizacional seria mais do que suficiente. Há uma ampla quantidade de modelos organizacionais de igrejas à disposição, desde a forma de governo (episcopal, presbiteriano, congregacional, 12, etc) até a forma de funcionamento (células de crescimento, de edificação, cultos, ministérios, departamentos, grupos, com propósitos, etc). Particularmente, creio que cada um desses modelos é valido; não existe um modelo melhor ou pior, mas sim aquele que cada um utiliza. Cada modelo tem seus pontos fortes e pontos fracos, bem como suas oportunidades e ameaças, facilmente detectáveis a partir de uma simples análise SWOT. 
 
Mas o problema é mais profundo. Ele deriva-se da dupla natureza da igreja, que é tanto uma instituição, quanto um organismo vivo. Todo organismo vivo é, de uma maneira bem simples, um conjunto de sistemas interligados e mutuamente dependentes, que funcionam sinergisticamente visando a manutenção da vida e do bem-estar do organismo. Quando os sistemas que compõem o organismo não funcionam como deveriam, os demais sistemas ou compensam esta disfunção - trabalhando muito mais do que deveriam - ou também passam ao estado de mau funcionamento. Isso é facilmente exemplificado observando-se o corpo humano. Se, por exemplo, há algum problema no funcionamento dos rins na regulação do nível de líquido no corpo, o volume de líquido aumenta e deste modo aumenta a pressão arterial, que nada mais é do que o coração fazendo mais força para bombear uma quantidade maior de líquido. A persistência no quadro pode gerar muitos danos, tanto para o coração quanto para os demais órgãos e tecidos.
 
Mas o que é um sistema? Da biologia, aprendemos que um sistema é um "conjunto de órgãos compostos dos mesmos tecidos e que desempenham funções similares". Cada membro da igreja se constitui, na verdade, no órgão que a mantém funcionando. Assim, o cerne do problema está na constituição fundamental da igreja, ou seja, em seus membros e lideranças. Novamente, são todos os membros? São todas e quaisquer lideranças? São todas as denominações? Não, não e não! Ainda há, por certo, pessoas sérias e comprometidas com o organismo e com o Senhor deste organismo. 
 
Contudo, o apóstolo Paulo diz que há um grupo de pessoas cuja característica é ser radicalmente o oposto do que deveriam ser; um grupo que é encontrado no lugar onde jamais deveriam sê-lo. Nas palavras de Paulo, são pessoas que têm aparência de piedade, ou seja, aparentam santidade, temor de Deus, conversão, mas na verdade são pessoas desprovidas de todos os valores e características que identificam e qualificam os verdadeiramente piedosos.  Paulo enumera as características dessas impiedosas pessoas, homens dos últimos dias, num total de 18 "adjetivos", que fariam o cruel e tirano Imperador Ming, de Flash Gordon, parecer o mais santo dos homens.
 
É justamente esse grupo de ímpios transvestidos de crentes, nos bancos e nas lideranças, que fazem com que estes últimos dias sejam dias trabalhosos. Gente que vive de acordo com os padrões e princípios deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito [maligno, do inferno] que neles opera, enquanto na condição de filhos da desobediência (Ef 2.2), e que torna-se religioso, igrejeiro, sem no entanto experimentar a transformação do caráter, sem experimentar o novo nascimento. Como não houve mudança de vida, estas pessoas passam a reproduzir na igreja aquilo que elas são e aquilo que elas vivem no mundo, do qual ainda não saíram. Eles não foram "ek-kaleo", chamados para fora do mundo e, portanto, não são igreja no conceito bíblico; não são parte do organismo vivo. Porém, são igreja no conceito secular: membros da organização, com direito a voz e voto, com direito a serem batizados e tomarem Santa Ceia. 
 
Lidar com este tipo de gente produz uma canseira sem precedentes! Dá muito trabalho lidar com homens "amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus". São essas pessoas que contribuem com seu mal comportamento, fruto de um caráter deformado pelo pecado, para que o nome de Deus seja blasfemado no mundo (Rm 2.24) - isso quando eles mesmos não são os primeiros a blasfemarem desse Nome. São esses que fazem com que a Bíblia e a igreja tornem-se piada, que o Santo Nome do Senhor Jesus vire jargão cômico na boca de infiéis (como, por exemplo, "só... na causa!"). São esses que não entram no Reino de Deus e ainda por cima impedem aqueles que entravam de continuar a fazê-lo, produzindo uma enormidade de escândalos para a igreja (o mundo percebe cada igreja como uma coisa só). São esses que resistem sempre a todo ensino e correção; que aprendem, aprendem e aprendem mas nunca chegam ao conhecimento da verdade (II Tm 3.7).
 
Por isso, como canta o Paralamas, "igrejas [estão] em ruínas". Perderam seu propósito original, de ser igreja. Estão na igreja, mas não são igreja. Estão mas não são. Estão de corpo presente, como também pdoeriam não estar. Estão porque têm interesse naquilo que a instituição e seus mentores podem oferecer: bênçãos fáceis a preços módicos, status social, carreira e profissão, palco e atenção. Como é fácil fazer sucesso "naquela que é e não é", como é fácil lucrar milhares e milhões com CDs de música, que enfatizam o estar e não o ser (ou como vir a ser); como é fácil ter programas e canais de TV e rádio, para ajudar a manter o "status quo". Igrejas em ruínas, arruinadas e arruinadoras. Instituições vazias, ocas, sem nenhum valor espiritual. Igreja que é estudo de caso, em dissertações e teses acadêmicas, do que não é igreja. Aquela que é e não é, que diz "o culto desta noite foi maravilhoso, ô glóooriiiaaaa", porque a música que cantaram tem um ritmo eletrizante, ou tem uma melodia de fossa. porque a mensagem que ouviram, dita de Deus, foi cuidadosamente preparada para gerar sentimentos positivos de alegria, ou porque o dito "pastor/apóstolo" aplicou técnicas de manipulação de massas.
 
Como é extenuante lidar com essa situação. Que canseira! Mostrar a verdade sobre a "inverdade" que é essa "igreja". Nestes dias de muito e intenso trabalho, corre-se o risco da estafa e do desânimo. Para que isso não ocorra, só tem um jeito: esperar no Senhor. Assim diz a Palavra de Deus: "Mas os que esperam no SENHOR renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão" (Is 40.31). Como canta o Pr. Feliciano Amaral, "Óh Senhor, dá que eu possa esperar! De joelhos imploro, até que Tu mesmo direto respondas; dá que eu possa realizar, o que outros fazem, esperam orando em Ti óh Senhor!". Não desistir, apesar de toda conspiração satânica para que isso aconteça; não abandonar a congregação, ainda que esta seja a vontade pululante.
 
É preciso tirar os olhos dessa que não é igreja verdadeira, mas é filha da prostituta embriagada de Apocalipse 17. João se maravilhou com grande admiração da mãe dela e foi repreendido pelo anjo do Senhor. Nas palavras do anjo, a mãe prostituta é aquela que "foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá" e assim como é a mãe, são as filhas. Do mesmo modo, aceite a carinhosa repreensão e não fique olhando com admiração para ela, para que você não venha a ser seduzido por essa meretriz espiritual, que ostenta poder e riqueza ("vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas", v.4), ou desanimado pela contemplação do sangue dos santos e das testemunhas de Jesus em sua boca. Não permita que sua vida se desvie, nem para direita, nem para a esquerda, mas siga sempre em frente, olhando firmemente para Jesus, o Autor e Consumador da nossa fé!



Pense nisso. Deus está lhe dando visão (e asas) de águia!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

JUSTIFICATIVAS OU JUSTIFICAÇÃO?


O termo justificativa deriva do Latim, justificare, “fazer justo; fazer justiça; tratar com justiça; justificar; absolver”, composto de justus, “que tem a devida medida; que tem o que lhe pertence; conveniente; suficiente; bastante; legítimo; benigno”, e facere, “fazer; executar; efetuar; levar a efeito; desempenhar; cumprir; cometer”.

Conforme Louis Berkhof, o termo hebraico hitsdik, traduzido por justificar, é estritamente de cunho judicial, forense, significando “declarar judicialmente que o estado de uma pessoa está na harmonia com as exigências da lei”.  Não significa, portanto, "fazer justo"; antes “alterar a condição de modo que o homem possa ser considerado justo”. No grego, o verbo equivalente, diakaioo, significa, em geral, “declarar que uma pessoa é justa”. Ocasionalmente se refere a uma declaração pessoal de que o caráter moral da pessoa está em conformidade com a lei. Do mesmo modo, o termo grego dikaios nunca expressa o que uma coisa é em si mesma, mas sempre o que é em relação a alguma outra coisa, a algum padrão que está fora dela, ao qual ela deveria corresponder.

Com base nestes termos e conceitos, o apóstolo Paulo em sua epístola aos Romanos enuncia a doutrina da justificação pela fé, definida como sendo o "ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com vistas ao pecador". A justificação pela fé é um dos principais pilares da Reforma Protestante, se constituindo na "causa mortis" da prática de auto-justificação por obras. Toda auto-justificação está morta, diante da justificação pela fé; toda e qualquer tentativa de buscar justiça por todo e qualquer meio que não pela fé em Cristo é anátema.

A auto-justificação, na qual a justificativa tem papel preponderante, tem essência completamente distinta da justificativa pela fé, senão vejamos:

a) A justificativa baseia-se em argumentos elaborados para inocentar o culpado, partindo assim do conceito de justiça pessoal. A justificação pela fé baseia-se no conceito de "declaração de justiça", partindo do Supremo Legislador do Universo - Deus;

b) A justificativa busca inocentar o culpado com base na tentativa de demonstrar sua não-transgressão de um código consuetudinário ou legal. A justificação pela fé baseia-se na reconhecida e inapelável declaração de culpa pelo transgressor perante a Lei de Deus (Rm 3.23);

c) Na justificativa, o homem apóia-se em seus próprios critérios e padrões de justiça, tanto conceituais quanto práticos, tendenciosos em essência; na justificação pela fé, Deus (e não o homem) baseia-se em Seus Santos e Justos critérios, que são Eternos, indiscriminatórios e inalteráveis, para conferir justiça;

d) Na justificativa, o homem busca a todo o custo, por todas as formas e maneiras, não ser responsabilizado por seus próprios atos, sempre justificáveis aos seus próprios olhos; na justificação pela fé, Deus não justifica os atos humanos, ao contrário, Ele envia Seu Único Filho - Jesus Cristo - para ser julgado e condenado à morte no lugar do transgressor, a fim de que o homem possa obter justiça pela fé, não por obras ou argumentos.

A justificação pela fé é, deste modo, um critério justo e universal, aplicável a todos os homens, de todas as etnias e classes sociais, uma vez cumpridas suas prerrogativas básicas: reconhecimento de culpa, reconhecimento da incapacidade de obtenção de justiça por métodos humanos e fé na morte vicária e expiatória de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A justificativa pela fé é uma das múltiplas formas e expressões da Graça de Deus; é, também, manifestação de Sua Bondade e Misericórdia.

Assim, na Justiça segundo Deus, há espaço para o perdão do transgressor e quitação dos débitos com a Lei. O transgressor só é condenado se escolhe deliberadamente viver como "fora-da-lei", ou considerando seu afastamento de Deus (manifesto pela insistente dureza de coração, pela impenitência, pela desconsideração da bondade de Deus por meio de Cristo) como algo correto ou considerando-o como algo justificável.

No mundo dos homens, há um princípio do Direito que estabelece que ninguém pode alegar desconhecimento da lei como razão para descumpri-la. A vida em sociedade não seria possível se as pessoas pudessem alegar o desconhecimento da lei para se escusar de cumpri-la. Como ninguém pode alegar desconhecimento da lei para justificar seus erros, todos os cidadãos tem como dever conhecer seus direitos e obrigações. Porém, como o transgressor da Lei de Deus pode ser alertado do seu estado de "outlaw"? Para isso mesmo Deus, em Sua infinita Sabedoria, deixou duas fontes de conhecimento: a Palavra Escrita (a Bíblia Sagrada) e a Igreja, anunciadora da Palavra Escrita.

Deste modo, exerce a Igreja importantíssimo papel nas questões que envolvem Deus e Sua relação com o homem, desde que esta se baseie na letra e no Espírito das Escrituras Sagradas. É ela, enquanto "coluna e baluarte da verdade", quem mostra ao homem transgressor o seu real estado diante da Justiça e dos Juízos de Deus; que mostra que a despeito dos avanços sociais e científicos que o homem possa galgar ele, o homem, é pecador inveterado e está destituído da glória de Deus, sendo incapaz de remissão ou redenção por atos baseados em seus próprios critérios (o que é lógico, dado que são estes mesmos critérios e justiças, desprovidos de toda e qualquer justiça, a expressão natural do transgressor).

No Evangelho de Mateus, o Senhor Jesus classificou esta faculdade de "salgadura" e de "iluminação". Salgar a vida dos homens é a função do "sal da terra", enquanto iluminá-los é consequência do estado de "luz do mundo". Assim, na condição de luz do mundo, a Igreja mostra ao transgressor a sua transgressão, a causa máter de todas as transgressões e a solução de Deus para sua vida. Por sua vez, na condição de lsal da terra, a Igreja conserva o estado espiritual do transgressor arrependido, do convertido, lembrando-o das ricas promessas de Deus e exortando-o insistentemente à constante vigilância, chamando-o ao arrependimento e à restauração no caso de sua queda.

Do mesmo modo, no mesmo Evangelho, o Senhor Jesus disse que se o sal não salgar, tornando-se insípido, para nada mais ele serve, a não ser para ser pisado pelos homens (Mateus cap. 5). É digno de nota que o sal da Palestina encontrado nos pântanos não era puro. Devido à substâncias estranhas nele, ele perdia o seu sabor e tornava-se insípido e inútil, quando expostos ao sol e ar, ou quando permitia-se que ele entrasse em contato durante um tempo considerável com o solo. Ser pisado pelos homens... passagem profética! Nunca a Igreja foi tão pisada pelos homens, nunca foi tão esculhambada pela sociedade! E, tudo isso, por um simples fato: o sal deixou de salgar.

Hoje, o pregador que insiste em pregar contra pecado é considerado "persona non grata", quer pelos crentes, quer por outros pastores e líderes. Se aborrecem e usam o recurso da fofoca, do leva-e-traz, e da murmuração quando suas mazelas são expostas e combatidas à luz da Palavra de Deus, quando os corações de pedra sofrem a ação da perfuratriz de diamante que é a Bíblia, quando a Espada do Espírito vai no cerne, na divisão da alma e do espírito, mostrando às claras aquilo que tanto querem "varrer para debaixo do tapete"

Hoje, na lógica do presente século, mais vale ter a Igreja cheia de gente vazia. Para isso, basta aplicar um pouquinho da teologia da prosperidade, de campanhas pseudo-espirituais malucas, sem pé nem cabeça (que envolvem uma mistura de misticismo com bufunfa) e usar alguns jargões e palavras de efeito motivacionais. Neste cenário, não há lugar para Deus; o Espírito Santo se afastou e Jesus está do lado de fora, insistentemente batendo à porta.  Será que você está escutando Ele bater? Ou já está tão surdo espiritualmente ao ponto de ouvir apenas o seu corrupto coração? Isso me faz lembrar do antigo hino "Somebody's Knocking at Your Door", baseado em Apocalipse 3:20:

Somebody’s knocking at your door; 
Somebody’s knocking at your door;
O sinner, why don’t you answer?
Somebody’s knocking at your door.

Knocks like Jesus,
Somebody’s knocking at your door;
Knocks like Jesus,
Somebody’s knocking at your door;
O sinner, why don’t you answer?
Somebody’s knocking at your door.

Can’t you hear Him?
Somebody’s knocking at your door;
Can’t you hear Him?
Somebody’s knocking at your door;
O sinner, why don’t you answer?
Somebody’s knocking at your door.


Answer Jesus,
Somebody’s knocking at your door;
Answer Jesus,
Somebody’s knocking at your door;
O sinner, why don’t you answer?
Somebody’s knocking at your door.

Sim, isso mesmo: o Senhor Jesus está batendo à porta! Você não pode ouvi-lo? Se sim, então responda-O! Sabe como Ele bate à porta? Não? Ele parte à porta por meio de um louvor inspirado. Ele bate à porta por meio de um testemunho genuíno; mas acima de tudo Ele bate à porta por meio da Sua Palavra, por meio da pregação bíblica, cristocêntrica, livre de amarras e vãs sutilezas humanas, livre de interesses escusos em não combater o pecado e amaciar o ego dos pecadores, livre de justificativas furadas para o injustificável. Ah, mas você não consegue ouvi-Lo, não é mesmo? Seu desejo carnal está gritando tão alto que você não consegue ouvir mais nada... sim, sua natureza carnal está gritando: gritando emulações, gritando justificativas para seu desleixo e apostasia da verdade.

É possível até ouvir o grito: "Ah, isso está uma bagunça mesmo... ninguém leva mais nada a sério... é melhor seguir o curso do presente século, assim terei sucesso em minha vida, em meu ministério...". Se trata-se de um ministro da Palavra, o grito ainda pode ser mais profundo: "Vou dar exatamente aquilo que desejam, pão e circo... assim vou ser amado, querido por todos; vou ser próspero, nunca mais passarei necessidade alguma... chega de tentar viver, de tentar ser, de tentar ensinar; de agora em diante vou ser exatamente como todo mundo é... afinal, a Bíblia diz...". Esse é o grito que está no seu interior, no seu coração; o grito da dor e do desespero, da consciência do fracasso e da necessidade (de dinheiro, de aceitação, de fama, etc). É um grito cheio de justiça pessoal, cheio de justificativas, cheio de razões... que refletem apenas as suas próprias fraquezas e mazelas. O grito da Justificativa, onde a Bíblia é mais uma fonte de falácias pessoais!

A justificativa e a auto-justificação jamais levam o homem à Deus; antes, levam-no à religião. Quantos não se destacam em suas religiões, até mesmo como fundadores, por que usam a religião para justificar seus atos? Quantos pastores e músicos não se tornam expoentes no mundo gospel porque se tornaram "profissionais da religião institucionalizada", atendendo assim aos gritos de suas almas?

Mas pode haver também uma outra voz, dentro de você, a qual também tem um grito poderoso. É a voz da consciência, que lança sobre você uma série de acusações por tudo o que você tem feito. Uma voz que é realçada por uma pregação, por um louvor, ou por um simples texto como este. Uma voz que clama, dizendo: "Você sabe que está errado! Você sabe que esta justificativa não cola! Você sabe que está em pecado aos olhos de Deus! Você sabe, você sabe, você sabe...!". Se esta voz está a clamar na sua vida, glorifique a Deus por isso; é sinal de que ainda há esperança para você. Porém, essa voz só o levará até Cristo e à Sua Justiça se você não cair na armadilha da justificativa, nem da auto-justificação.

Você, querido(a) leitor(a), tem duas opções mutuamente excludentes. Primeira opção, você escolhe dar  ouvidos à voz da sua concupiscência, tornando-se mestre em justificativas; a Bíblia aqui é apenas para servir como fundamentação para seu pecado; a Igreja é boa se for neutra com relação às suas transgressões e ótima se as justificar; o ministério é fonte de lucro, afinal sua inaptidão na esfera profissional precisa ser compensada de alguma maneira; os crentes devem ser incentivados a dar mais e mais dos seus recursos e isso só é conseguido caso eles "sintam-se bem e felizes" com suas mensagens e hipocrisia. Ao final ao terminar sua vida, não reclame do seu destino eterno, ok?

Segunda opção: você opta por dar ouvidos à voz da consciência e sente a dor pelo seu pecado. Daí, você lembra onde caiu, se arrepende e volta ao primeiro amor. Abre mão das justificativas e entrega-se na mãos do Senhor; entrega sua vida e ministério, seus sonhos, projetos e frustrações Àquele que lhe chamou, capacitou e enviou, recebendo DEle o perdão e a cura, a restauração de sua vida e ministério; passa então a ser justificado unicamente pela fé em Cristo, vivendo a cada dia na suficiência da Graça de Deus. Ele, o Senhor, que insistentemente bate à porta da sua vida, sim; abra a porta; Ele prometeu entra na sua casa e cear contigo e você com Ele. Então você experimentará, na prática, que o Senhor é Deus; você verá que o Senhor tem poder!

Pense nisso. Deus está lhe dando visão de águia!