quarta-feira, 7 de novembro de 2012

APOSTASIAS DO MUNDO GOSPEL: OBESIDADE VERSUS UNÇÃO PASTORAL

Uma das áreas do saber que gosto é a matemática. Como engenheiro, não poderia ser diferente; afinal, foram inúmeras cadeiras que envolviam cálculos matemáticos, direta ou indiretamente. Aproveitando que além de engenheiro exerço também a função de pastor, vou correlacionar a teologia com a matemática a propondo aos leitores o seguinte problema:

Sabendo que um vaso contém 500 ml de óleo ungido consagrado no Monte Gerizim, em Israel; que para produzir esse óleo foram prensados 2 Kg de azeitonas extraídas do Monte das Oliveiras (levando-se em consideração que cada azeitona no Monte das Oliveiras, sem caroço, quando prensada gera uma unção tremenda de 1.000.000 BTU* - "Bênção Tremenda da Unção") e que a densidade relativa do óleo, por causa da unção e do peso profético é muito maior que a da água utilizada no rebatismo dos crentes no Rio Jordão, sendo o seu valor de 2.5, calcule: a) A quantidade de unção que pode haver num pastor de 1,80m, com barriga tipo tanquinho; b) A quantidade de unção que pode haver num pastor de 1,65m, com barriga tipo tanque de lavar roupa; c) A quantidade máxima de unção que pode haver considerando a relação barriga/altura típica de uma popstar gospel moderna.

*No mundo sério, BTU é uma sigla que significa "British Termal Unit" (ou Unidade Térmica Britânica). Trata-se de uma unidade de energia que equivale a 1.055 Joules. A quantidade de 1 Btu é definida como a quantidade de energia necessária para se elevar (ou reduzir) a temperatura de uma massa de uma libra de água de 1ºF.

Antes que você diga que as muitas matemáticas me fizeram delirar, leia a reportagem abaixo:

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Durante o culto mensal voltado para o público feminino, realizado na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, a pastora e cantora Ana Paula Valadão afirmou que ser gordo é algo que “não combina com a liderança” exercida por pastores e recomendou o jejum às “mulheres cheinhas”, como meio de emagrecer. O tema da pregação feita no “Culto Mulheres Diante do Trono”, no dia 31 de outubro, foi “Lembrem-se da mulher de Ló”. Na mensagem, que teve como referência o texto de Lucas 17:32, um dos assuntos abordados foi o jejum.

A mensagem central de seu sermão foi a necessidade de as mulheres saírem de sua “zona de conforto” e praticarem o que ela chamou de “exercícios espirituais”, como oração, estudo das Escrituras e jejum. Durante a pregação, Ana Paula fez paralelos entre a vida espiritual e a vida de um atleta, e chegou a utilizar termos com “No Pain No Gain”, termo usado em academias para dizer que sem dores não há ganhos.

Ao tratar especificamente de jejum a pastora, alegando que o jejum faria bem em vários aspectos da vida, recomendou a prática como estratégia para emagrecer, e defendeu que a gordura “não combina com a liderança”, pedindo o fim dos “pastores barrigudos”.

- Cadê o jejum? Te garanto que você vai ter muitos benefícios com o jejum. (…) Às vezes a pessoa tem uma enfermidade, mas às vezes a gente encontra umas irmãs cheinhas, e fala assim: ‘Gente, vamos fazer um jejum, vamos’? Não consigo entender quando não é uma enfermidade, aquele pastor gordo, barrigudo. Gente, não combina com uma liderança. Não preciso falar muita coisa – declarou a pastora.

- Está sobrando banquete de comunhão e faltando retiro de jejum e oração – completou a líder do Diante do Trono.

Fonte: http://noticias.gospelmais.com.br/ana-paula-valadao-afirma-pastor-gordo-nao-combina-lideranca-44389.html

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É melhor ler isso do que ser cego... Note que na concepção dessa dita pastora se o pastor é gordo ou barrigudo ele não serve para liderança. Ou seja, a barriga do irmão é um impedimento ao exercício ministerial dele. A conclusão lógica após a leitura dessa matéria é de que a unção ministerial é inversamente proporcional ao tamanho da barriga, ou seja, quanto maior o bucho, menos unção o sujeito possui. Nesse conceito, um pastor macérrimo seria o mais ungido, porque segundo essa senhora já que as gorduras desaprovam a pessoa, então a magreza aprova. Talvez seja porque quanto mais "redondo" for o irmão, menos espaço físico há para unção espiritual, conseguida com a "dieta" do jejum e da oração. Aliás, ficou subtendido pela conclusão dela que a oração emagrece. Melhor do que a dieta do Dr. Atkins, viu?   Que sina a dos pastores gordinhos! "Seu gordo, você está assim porque não jejua e não ora! Não serve para ser pastor!" Só faltou chamar os irmãos gordinhos de "carnais". Estamos lascados: um midiático gospel diz que os pastores que não pregam a teologia da prosperidade são idiotas e que deveriam abandonar o ministério; a outra midiática gospel diz que os pastores acima do peso não servem para o ministério...

Agora, sinceramente me responda: dá para aceitar um comentário desse nível? Ah, como faz falta a Bíblia nos púlpitos das igrejas! Livro esquecido, perdido, desprezado... substituído por "conselhos sábios" de "ungidos", tal como esse conselho. Meu Deus, criamos um Cristianismo sem Cristo e sem Bíblia! Um cristianismo gospel que cria padrões de unção e de estética e, ainda por cima, alia um ao outro! Eu pergunto: onde está essa correlação na Bíblia?!?! Onde está escrito - livro, capítulo e versículo - que somente os magros ou sarados são aptos para o ministério da Palavra?!?!? Basta uma rápida leitura nas chamadas epístolas pastorais que não se vê NENHUMA recomendação apostólica relacionada ao tamanho da barriga daquele que almeja o pastorado! 

Ser gordo não é necessariamente sinal de glutonaria, como essa senhora propõe nas entrelinhas. Gordura pode ser por inúmeros fatores, tanto genéticos quanto comportamentais - por exemplo, o stress. Seriam estes pastores obesos carnais - afinal, são obesos porque não jejuam e não oram? Pergunto: como ela faz uma generalização ridícula dessas? Tem essa senhora "bola de cristal profética" para conhecer as centenas de milhares (quiçá milhões) de pastores das mais diversas denominações que atuam no Brasíl e no Mundo? Conhece ela o coração de cada um deles, nos cantos mais remotos do país e do mundo, a fim de julgar os obesos como inaptos? Como falta cultura bíblica e secular no mundo gospel atual! Será que o conhecimento de que a obesidade é considerada uma doença, uma epidemia é um saber tão elevado assim que só uns poucos possuem?!?

"Nos últimos 35 anos, o Brasil passou por uma impressionante transformação. Completou a transição de país rural para sociedade urbana e industrial, deixou para trás índices vergonhosos de mortalidade infantil e analfabetismo e, depois que conseguiu domar a inflação, nos anos 1990, consolidou um aumento substancial da renda da população. Esse conjunto de fatores permitiu reduzir drasticamente o histórico problema da desnutrição no Brasil. E resultou numa impressionante mudança no padrão físico do brasileiro. Desde 1974, quando foi feita a primeira pesquisa familiar que registrou peso e altura dos entrevistados, a população tornou-se mais alta. O déficit de altura entre crianças declinou da faixa dos 30% para menos de 10%. Nesse mesmo período, o brasileiro ganhou peso. [...] A explicação está principalmente no padrão de consumo alimentar. A POF de 2002/2003 mostrou que as famílias estão gradualmente substituindo a alimentação tradicional na dieta do brasileiro – arroz, feijão, hortaliças – por bebidas e alimentos industrializados, como refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e comida pronta. Tudo mais calórico e, em muitos casos, menos nutritivos. [...]  O sobrepeso é causado por uma alimentação pouco saudável. Para agravar o quadro, a prática regular de exercícios físicos está longe de fazer parte dos hábitos do brasileiro." (Veja, disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/pesquisa-do-ibge-mostra-que-obesidade-e-epidemia-no-brasil)


"Pesquisa da FSP liga alimentos ultra-processados à epidemia de obesidade - Segundo o professor Carlos Augusto Monteiro, que coordena o Núcleo e o estudo, a pesquisa ainda está em sua fase inicial, na formulação de hipóteses – mas os primeiros levantamentos disponíveis mostram que a “comida pronta” tem tudo para ser uma das maiores vilãs do excesso de peso e doenças associadas.[...] A alta densidade energética não é o único mecanismo que liga o consumo dos ultra-processados à obesidade. Também entram na conta a ingestão de ‘calorias líquidas’ (bebidas adoçadas e muito calóricas); a hiperpalatabilidade, estimulando o consumo mesmo quando a pessoa se sente ‘satisfeita’; a adição de químicos, a prática do mindless eating (algo como ‘comer sem se preocupar’) e do consumo de porções gigantes; além de ações de marketing agressivas – e mesmo antiéticas – por parte da indústria." (USP, disponível em http://www5.usp.br/16564/nucleo-da-fsp-analisa-questoes-de-nutricao-e-obesidade/)


Assim, a causa da obesidade não é necessariamente a glutonaria, como é insinuado pela senhora gospel. Muitos fatores contribuem para a obesidade o que torna a generalização feita um absurdo e mais: uma afronta a toda um grupo de pastores! É bom que se diga que muitas pessoas comem, comem e comem mas não engordam, por uma questão metabólica. Magreza ou obesidade não é necessariamente sinônimo de doença, ou saúde, ou pecado ou espiritualidade! É RIDÍCULA essa afirmação! Ridícula! Isso é replicar padrões mundanos na igreja, porque é o mundo que estabelece que o sujeito com corpo magro é melhor do que um com corpo gordo. Ou seja: pastor "Laurel" (magro) é melhor do que o pastor "Hardy" (gordo). Interessante e muito oportuno é o comentário do Dr. Drauzio Varella: "Atribuir ao doente a culpa dos males que o afligem é procedimento tradicional na história da humanidade. A obesidade não foge à regra.[...] O mesmo preconceito se repete agora com a obesidade, até aqui interpretada como condição patológica associada ao pecado da gula. No entanto, a elucidação dos mecanismos de ação dos mediadores químicos e da arquitetura dos circuitos que os neurônios estabelecem até chegar aos centros cerebrais encarregados do controle da fome e da saciedade tem demonstrado que engordar ou emagrecer está longe de ser mera questão de vontade." (http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/obesidade/o-gordo-e-o-magro/, grifo adicionado)

Fica aqui o protesto contra esse argumento dessa senhora midiática gospel. Lamento profundamente que em nosso país aqueles ditos e denominados guias de cegos, pastores de almas, que detém recursos para atingir grandes quantidades de pessoas com o genuíno Evangelho de Cristo fiquem desperdiçando os recursos do Reino de Deus com essas bobagens, com esse tipo de conselho que só serve para produzir chacotas e escândalos.

Fica aqui também o meu lamento contra toda essa apostasia que cresce no meio dito evangélico, nas mais variadas denominações. Sou tomado de grande tristeza quando vejo a Bíblia Sagrada tão desprezada nos púlpitos das igrejas midiáticas. Ela infelizmente e tristemente foi relegada a um segundo ou mesmo terceiro plano em cultos e reuniões nesses lugares, removida do primeiro lugar em prol do show gospel, com suas manifestações almáticas e carnais, onde a ênfase não está em Cristo, mas no homem. Cultos repletos de modismos e sincretismos, mesclados de heresias como confissão positiva e teologia da prosperidade, com uma mensagem emotiva de auto-ajuda.

Adoração, hoje, é sinônimo de no mínimo bagunça, de esquisitice, resultado das unções modernas. Unção de leão, que faz a pessoa andar de quatro; unção de galinha, onde a pessoa cacareja, unção de águia, onde a pessoa agita os braços como se estivesse batendo asas.  O que aconteceu com a forma antiga de se adorar -  em espírito e em verdade? As músicas antigas, mensagens cantadas que apelavam evangelisticamente ao pecador inconverso, que falavam da jornada cristã, de Deus, de Cristo foram substituídas por "louvores" que sequer tem, na letra, o nome Deus ou o nome Cristo! Letras que confundem paixão com amor, enfocando um tipo de intimidade com Deus quase que sexual!

Hoje, o abandono da Bíblia é chamado de "novo mover, nova unção". Chama-se esta apostasia que aí vemos de "avivamento do Espírito". O que gerou esse "novo mover", essa "nova unção", importada dos Estados Unidos, criadas por falsos mestres com suas falsas doutrinas? Houve melhora? Trouxe o caráter de Cristo, transformação de vida? Não! Hoje, há uma nova moralidade que tomou conta de muitas igrejas, onde não há mais limite entre o santo e o profano. Hoje há bailes dentro das igrejas. Há festas de fantasias. Há “baladas”. O sexo entre jovens e adolescentes agora é tolerado e, em alguns casos, até incentivado com a distribuição de preservativos. Há pais crentes que não se importam se seus filhos fizeram ou fazem sexo antes do casamento; alguns até incentivam. Já há sex-shop gospel!

Antigamente, ao contrário de hoje, os pregadores buscavam a excelência, numa linguagem sadia e rica, num sermão bem lógico e bem formatado, pois criam estar formando opiniões e entendiam que seus auditórios eram compostos de pessoas inteligentes e sensatas, que cresceriam na cultura e no conhecimento bíblico. Hoje, o púlpito - que outrora ocupava posição de destaque no culto cristão - foi para o canto ou transformou-se em apetrecho desnecessário. A plataforma das igrejas transformou-se em palco para shows. Normalmente os instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos e outros elementos de mídia ocupam todo o espaço. Não há diferença dos palcos de programas televisivos. Junte-se a isso o fato de que o conteúdo das mensagens pregadas é paupérrimo. Temas como “Matando sete leões por dia”, “como vencer as barreiras”, “a arte de transformar derrotas em vitórias” tornaram-se o tema do momento, fruto de publicações da internet, onde os ícones da mídia evangélica publicam em pequenas quantidades as suas adaptações do que aprendem em palestras de hotéis e cursos de vendas. Há pastores que se limitam a comentar as manchetes dos jornais do dia ou ler as orelhas dos últimos livros da editora preferida ou então tecem críticas sobre política, novelas,  esportes ou ainda sobre eventos denominacionais.  Falar sobre Céu, Inferno, salvação, perdição, moral, espiritualidade, ética... isso não dá ibope, não projeta ninguém no grande "hall of fame"!

Resultado: igrejas às vezes até cheias, porém fracas, sem bíblia, sem doutrina, sem espiritualidade. A hermenêutica tornou-se de múltipla escolha. Hoje a filosofia que impera na interpretação bíblica é a relativista: o que vale para uma igreja, ministério, pastor, época ou situação podem variar inesgotavelmente. Cada um interpreta a bíblia a seu bel-prazer. A linguagem no púlpito tornou-se também coloquial. No afã de transformar a mensagem em algo inteligível para todos, mudou-se a linguagem, levando-a ao mais baixo nível. Não é raro ouvir palavrões na pregação. Palavras feias, chulas, frases de mídia, chavões, português mal aplicado, tudo ao gosto da modernidade. Assim como a mídia faz questão de trazer a linguagem dos antros e dos redutos da imoralidade para a tela e para os lares, os púlpitos refletem também a mesma pobreza, mau gosto e qualidade: púlpitos feios, chulos e pecaminosos.

Ao contemplar toda essa apostasia, esse tsunami de impiedade que assolou a moralidade bíblica e a espiritualidade cristã, faço as seguintes perguntas: será que essa gente não teme a Deus? Será que ao lerem a Bíblia elas não enxergam que o Deus da Bíblia é Deus sério, que não é de brincadeira e que não se deixa escarnecer? Nunca leram que quando o juízo de Deus começar, ele começará impreterivelmente pela casa Dele, na vida daqueles que se chamam pelo Seu Santo nome? O que será de nós, quando esse juízo começar?

Pense nisso. Deus está te dando visão (e não unção) de águia!